quinta-feira, 10 de novembro de 2022

A VIDA DO ESCRITOR, SOBRE O LIVRO DE CONTOS, "DOS EXASPERADOS AOS ACOMETIDOS"



Comentários sobre o primeiro livro de contos, 
"dos Exasperados aos Acometidos", de Arnaldo Chagas, que acaba de ser lançado pela Editora Drago (RJ):  

 Os  contos que estão no livro foram selecionados dentre tantos outros que tenho arquivados. Através das histórias, escancaro a brutalidade do ser humano, mas também a sensibilidade e a solidariedade. São contos urbanos que chocam, sensibilizam e comovem. Confrontar o que há de pior e de melhor na natureza humana. O leitor vai se deparar com uma mistura de crueldade e de generosidade que cobrem as narrativas. Os contos relatam dramas que chocam e revelam os limites do sofrimento humano, bem como, o destino imprevisível que seus impulsos destrutivos podem alcançar, quando diante de situações desoladoras, que podem abalar e desnortear qualquer pessoa. 

 Como ocorre o processo criativo do escritor Arnaldo Chagas? Quais são suas inspirações?

 O meu processo criativo se dá sempre na solidão ou na solitude. Ocasião em que me isolo do mundo. São graças em que você para o sítio da família ou quando me enclausuro no meu gabinete ou consultório. Esses são meus cantinhos especiais e preferidos para reflexão, criação e escrita. Nesses momentos consigo entrar em contato com meu mundo interno, com minhas emoções mais profundas, daí, coloco “relativamente” em (des)ordem, as ideias que me ocorrem. As ideias inventivas surgem de diferentes maneiras. Nisso sou eclético, creio. De todo modo, minhas inspirações surgem de situações observadas ou/e vivenciadas na realidade objetiva. Quase todos os contos apresentados no livro "dos Exasperados aos Acometidos", por exemplo, inspirações tiveram em fatos. Daí imagino várias possibilidades de desenvolvimento dos conflitos e seus finais. Às vezes já está tudo projetado quando me lanço a escrever, outras vezes, tenho uma ideia vaga e me lanço a escrever, durante o processo de escrita, as ideias vão surgindo. Nesses casos, até o estágio me surpreende, justamente por ser inesperado. Isso é algo incrível. Relaxe e deixe o inconsciente trabalhar a meu favor.  

 Um exemplo é o conto “Pronto, Socorro”. Certo dia presenciei um acidente terrível. Um carro e uma motocicleta se chocaram violentamente. Como também sou motociclista – viajo de moto – esse acidente me impactou profundamente, além disso, como trabalhei a vida toda no hospital e socorri muitas pessoas acidentadas, nascidas no referido conto. O leitor, a leitora, perceberá (sem spoiler), que o movimento da narrativa “vai ocorrer com o personagem, da rua para o interior do hospital”, cenário, aliás, onde ocorre a maior parte da história e seu desfecho. Todos os contos desse livro, têm um pé cravado na realidade factual. Se são contos realistas ou não, deixo para os leitores decidirem e opinarem.  

 Outra inspiração é a escuta atenta. Costumo dizer, que “a melhor escola de escuta é o silêncio atento”. Escuto pessoas livremente, de forma amoral, procurando ouvir sem intervir. Anoto o que ouço. Por meio dessas anotações, vou elaborar associações de ideias e registrar. Depois guardo numa gaveta para retomar mais tarde.  

 Um pequeno trecho de um dos contos do livro: 

 D o conto: “Tormento kafkaesco”, p. 35, do livro:

 Sábado pela manhã, um frio de tiritar, ouço o barulho da camionete. É papai chegando na fazenda. Vejo-o pela janela dando ordem a três pessoas para reunir o rebanho no curral. Feliz da vida vou ao encontro de meu pai:

— Bom dia, coronel Miranda. Vai vacinar o bicharedo?

— Melhor que isso. É dia de abate.

— Abater!?

– Sim. Doei a carne para a festa de amanhã.

Paralisei. Notei que o gado está agitado no curral. Mimoso me olha e tenta andar em minha direção, mas um peão gritante e o faz voltar. Meu coração dispara, sinto um aperto no peito, um nó na garganta, estou sem entender nada. Olho para Juraci. Ela observa a janela em silêncio. Não consigo reagir, meu defeito de sempre. Algo me inicie por completo.

Papai olha tranquilamente para o rebanho, aponta para Mimoso:

— Aparta esse zebuzinho aí. Tá no ponto!

Uma aflição terrível toma conta de mim. Não! Não pode ser!

Com a corda já no pescoço, Mimoso pressente o perigo. Seus olhos arregalados fixam os meus. Berra pedindo ajuda. Ele sempre quando me via corria para perto de mim. Eu estou desesperado. Não sei o que pensar, o que fazer.


Em breve uma entrevista completa do escritor Arnaldo Chagas, para a Revista "Conexão Literária" (total: 359.674 seguidores). 

 

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