Arnaldo Chagas
Na vastidão de nossa jornada que é a vida, somos confrontados com verdades inescapáveis a respeito do envelhecimento. A velhice, aquela sombra temida que se aproxima como o eco distante de um sino em uma manhã gelada de inverno, é uma dessas verdades. Ao fitarmos semblantes já marcados pelos anos, enxergamos o reflexo do tempo, um espelho que nos devolve como marcas do percurso. São ombros curvados, como testemunhas exaustas de uma jornada, olhos fatigados, ainda cintilando com a centelha de esperança e resiliência.
Nessa contemplação, nos deparamos com a efemeridade, uma existência em que picos e vales se entrelaçam. Alguns de nós, diante do espelho, vislumbram o espectro da solidão, o que a velhice ameaça imprimir. Outros, mais a fundo, contemplam as raízes de suas angústias e tristezas, reminiscências que escondem nos recessos mais recônditos da mente.
Contudo, não posso me desfazer de minhas memórias. Elas são como a paleta de cores nas mãos de um artista, tingindo cada momento, cada riso, cada lágrima. Anseio por manter-las vivas. Elas são tão específicas quanto pinceladas de minha história, instigando-me a questionar, a aprender, a evoluir. Elas que dão substância à minha narrativa. Suprimi-las seria, de certo modo, perecer.
Há lembranças que eu não gostaria de reavivar, mas elas, de igual modo, integram meu ser, como cicatrizes cravadas no tronco de uma árvore vetusta, testemunhas silenciosas de um passado audacioso. São elas que conferem sentido à nossa existência, como um farol na noite escura, iluminando nosso caminho com uma luz suave, porém constante a guiar-me na noite.
A velhice não é começo nem fim; é o volume encadernado com suas páginas amareladas sob o toque implacável do tempo. É testemunhar os dias que se transformam em anos, e então em décadas, deslizando como o vento que sussurra entre as folhas de um majestoso carvalho antigo.
Portanto, encaremos o espelho com dignidade, abracemos a possível solidão que a velhice, porventura, possa trazer, com a sabedoria que se esconde nesse silêncio. Recordemo-nos de nossa humanidade, da beleza que se insinua até mesmo na dor. Pois somos moldados por nossas lembranças, sejam elas formosas ou aterradoras, sendo preciso coragem para manter-las vivas.
Em suma, o envelhecer se aproxima, em passos hesitantes ou numa marcha triunfal, assim, trazendo consigo verdades árduas que desativam a coragem para serem aceitas. Ainda assim, podemos contemplar o semblante enrugado que nos devolve o olhar no espelho e encontramos, nessas marcas, uma obra de arte esculpida pela vida.
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