Rebeca
Andrade, ginasta brasileira, em sua declaração parece sair em defesa da colega:
“As pessoas têm de entender que não somos robôs. Somos
seres humanos e cometemos erros, sofremos, adoecemos, fracassamos”. Freud já
havia chamado atenção para esse assunto ao afirmar “somos
feitos de carne e osso, mas temos de viver como se fôssemos de ferro”. Aí eu
pergunto porque precisamos suportar e satisfazer tantas exigências
ou expectativas, sobretudo quando estão além de nossas condições ou limites?
Biles
vira o jogo e dá exemplo ao valorizar sua psique. Desmistifica a ideia de que
atletas de alto rendimento são mitos e diz não ser uma supermulher e sim humana,
com fragilidades, medos e angústias como todo mundo. Tais atletas,
similar há milhares de trabalhadores, hoje, “colaboradores”, fazem parte de
“times” competidores, cobrados por resultados e que se tornam operadores de
tarefas, cumpridores de metas. Assediados pela ideologia individualista de
autoajuda e da meritocracia, se jogam de corpo e alma iludidos de que tudo
podem, desde que acreditem realmente em si, e se esquecem de que quanto mais
altas as expectativas e ideais, mais forte pode ser o impacto da decepção.
De
fato, a quantas exigências absurdas nos submetemos na vida, a custo de muito
sacrifício e sofrimento? Será que realmente precisamos nos escravizar tanto,
seja no lar, no trabalho ou nos estudos? Será que precisamos ser os melhores em
praticamente "tudo" que fizermos? Porque precisamos ser o mais
querido, o mais amado, o mais admirado? Será que precisamos ser sempre o
funcionário exemplar? Um pai, um filho, ou uma mãe, tão "perfeitos",
a ponto de comprometer nossa vida emocional e pagar um preço alto por isso? A
dica é saber exatamente quais são nossos limites, até onde podemos ou devemos
ir, até onde é saudável o esforço e a dedicação em busca do êxito nos
empreendimentos que possam acrescentar sentido e alegria à vida. Freud alerta
que “poderíamos ser muito melhores se não quiséssemos ser tão bons”.
Biles,
diante de tanta pressão e expectativa escolheu a sua saúde mental, e
parafraseando uma famosa expressão do saudoso cantor e compositor Belchior, sem
medo de ser feliz, pode dizer ao mundo: "ano passado eu morri, mas esse
ano eu não morro".