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sábado, 26 de novembro de 2022

Arnaldo Toni ou Arnaldo Antunes?

Domingo pela manhã, Arnaldo Toni decide encomendar um frango assado por telefone:

- Bom dia. Quero encomendar um frango.

- Para que horas?

- Pode ser pra às 11:30. Não, não, é melhor aí pelas 11:40, 11:45. O horário dependerá muito da hora que sairei daqui de casa e também de como está o trânsito. Pode ser?


- Ok. É você mesmo que vem pegar?

- Bem, provavelmente seja eu. Mas deixa ver aqui com minha esposa. Parece que ela vai dá uma saidinha, daí, se ela for pra esses lados, já peço pra ela passar aí pra pegar o frango.

- Como é seu nome?

- Arnaldo Toni

- Arnaldo Antunes?

- Não! Meu nome é Arnaldo Toni. Até gostaria que fosse Arnaldo Antunes. Sério mesmo! Adoro esse cantor e compositor. Gosto muito também das poesias dele...

- Moço, por favor...

- É sério senhora! Arnaldo Antunes nos ensina muito, através de suas poesias. Ele trata da materialidade das palavras, com a qual o campo da psicanálise também lida e eu adoro psicanálise. A palavra é para ler, ser escutada, vista e contaminada pelo silêncio que a reveste, viu só! Gostou?

- Ok, ok! Me repita seu nome, por favor!

- Meu nome, como lhe disse, é Arnaldo Toni

- Há sim, Arnaldo Antônio?

- Não, não é Arnaldo Antônio. Aliás, a senhora me fez lembrar do cara aquele do Facebook que usa como marca registrada o próprio nome. Ele se chama Antônio, mas você pode procurar ele no Facebook como: "Eu me chamo Antônio". Sabe, na real mesmo, até pensei em fazer um trocadilho e usar como minha marca registrada no Facebook, "Eu me chamo Arnaldo Toni". Legal né!?

- Moço, estou cheio de serviço aqui, só preciso anotar seu nome. Repita ele bem devagar:

- A r, n a l, d o  T o, n i

- Arnaldo Drones?

Não, não... meu nome é A r, n a l, d o,  T o, n i.  Pegou aí: A r, n a l, d o,  T o, n i.

A  mulher se emputeceu e desligou o telefone: "chega! Seu chato de galocha. Vai te catá!"

"Arnaldo Toni insistiu por umas 6 vezes, mas ela não mais atendeu.  

Arnaldo Toni, não aguentou o tirão e resolveu se queixar para Raquel, sua amiga. Ela sentiu que o caso era sério e decidiu ajudar:

- Mas tu é desagradável mesmo Toni! Só a Dolores, com aquela paciência toda, pra te aguentá. Eu hein! Vai te tratá home!

Raquel indicou análise com o famoso psicanalista Hermenegildo Amador Calado, o mais ortodoxo psicanalista lacaniano da cidade. Tipo analista de Bagé. Um especialista em neurose obsessiva.  

Mais de 3 anos e meio de análise.

Arnaldo Toni volta a ligar para encomendar um frango assado:

- Um frango assado.

Teka nem lembra mais dele. Atende o telefone novamente:

- Temos de vários tamanhos, pequeno, médio e grande, qual você prefere?

- Médio

- Eles ficarão prontos a partir das 11:30. Há que horas fica melhor para você vir pegá-lo?

- 11:45

- Bem, se acaso atrasar um pouco, mas raramente isso acontece, nós ligamos e avisamos você, pode ser?

- ok

-  Às vezes acontece da pessoa que encomenda mandar outra pessoa vir buscar o frango. Aí pode dar confusão. É você mesmo que vem buscar?

- Sim

- Se por acaso você pedir para outra pessoa vir buscar, ela terá que dizer seu nome e informar seu telefone pra não dar confusão, certo?

- Entendi.

- A gente anota aqui seu nome e aí quando você vir buscar é só informar. Como é seu nome?

- Arnaldo Toni

- Arnaldo Antunes? Não acredito! Adoro esse nome. É o nome do cantor e compositor que mais gosto. Sou fã de Arnaldo Antunes. Será que foi em homenagem a esse cantor que seus pais lhe deram esse nome? Você aprecia às músicas desse cantor? As poesias dele são lindas.

 

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

PROTEÇÃO AOS ANIMAIS


 Não vejo vídeos de atrocidades. Desse sintoma não sofro. Mas sei que existem certas pessoas que possuem verdadeiro fascínio por isso. Não significa negar a crueldade humana em relação a seu semelhante, a natureza ou a animais. Já escrevi vários textos tratando da maldade do ser humano, sobretudo, em relação aos bichos. Aqui tocarei mais uma vez no assunto.

Sou um covarde, não mato uma galinha. Antes que um vegano extremista conteste: “não mata, mas, depois de morta come a carne!”, respondo: “sim, como a carne”. Acontece o mesmo em relação ao peixe, ao boi, etc. Entendo que os animais, ao serem “sacrificados”, não devem sofrer jamais. Há um forte movimento dos defensores de animais, que tratam sobre essa questão. Ela está avançando no mundo todo. Há leis hoje que protegem os animais. Maltratá-los dá cadeia.

Não judio, nem mato animais, muito pelo contrário, convivo muito bem com eles e preso pelo seu bem estar. Lá no sítio, me viro bem no manejo com a bicharada. Conquisto eles, deixando-os em local adequado, alimentando-os, dando carinho, respeitando seus limites e conhecendo seus instintos.

Dói no coração, saber como certas pessoas podem ser tão insensíveis, a ponto de abandonar pelas ruas, seus animaizinhos de estimação. Durante minha vida, já resgatei muitos cãozinhos e gatos debilitados: desnutridos, com magreza excessiva, feridas profundas, em carne viva, fraturas nos membros, etc. Desidratação, anemia e infecção, são comuns nesses casos.  Sem socorro, muitos morrem.  

Como escritor, tenho tratado também dessa temática. No conto “Macheza”, o menino Candinho, protagonista, sai para caçar de bodoque pela primeira vez com seus amiguinhos. Ao acertar a cabeça de um passarinho, entra em parafuso. Frustra-se ao querer ser que nem seu pai militar, que é caçador de javali. Nessa estória, o leitor poderá sentir, que atitudes machistas reforçam tais comportamentos.

No conto “Tormento Kafkaesco”, do livro “dos Exasperados aos Acometidos”, recém lançado, há uma cena brutal do ser humano contra um boizinho indefeso. “Mimoso” é o animalzinho de estimação de Érick, protagonista da estória. Nesse conto escancaro a brutalidade do ser humano, diante da confusa e perigosa relação entre coragem e machismo. A ideia por trás desses e de outros contos, é sensibilizar o ser humano, estimulando a solidariedade, o cuidado, a compaixão e a generosidade, seja entre os humanos, entre eles e natureza ou entre ele e os animais. Sem essas qualidades, nos transformamos em verdadeiros monstros e não em animais como muitos, equivocadamente, afirmam.

Arnaldo Chagas 

 

 

       

 

      

 

 

 

 

 

  

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

SOBRE A VIDA DE ESCRITOR E SOBRE O LIVRO "DOS EXASPERADOS AOS ACOMETIDOS"

Comentários sobre o primeiro livro de contos, "dos Exasperados aos Acometidos", de Arnaldo Chagas, que acaba de ser lançado pela Editora Drago (RJ):  

 Os contos que estão no livro foram selecionados dentre tantos outros que tenho arquivados. Através das estórias, escancaro a brutalidade do ser humano, mas também a sensibilidade e a solidariedade. São contos urbanos que chocam, sensibilizam e comovem. Confronto o que há de pior e de melhor na natureza humana. O leitor vai se deparar com um misto de crueldade e de generosidade que cobrem as narrativas. Os contos relatam dramas que chocam e revelam os limites do sofrimento humano, bem como, o destino imprevisível que seus impulsos destrutivos podem alcançar, quando diante de situações desoladoras, que podem abalar e desnortear qualquer pessoa. 

 Como ocorre o processo criativo do escritor Arnaldo Chagas? Quais são suas inspirações?

 O meu processo criativo se dá sempre na solitude. Ocasião em que me isolo do mundo. São ocasiões em que vou para o sítio da família ou quando me enclausuro no meu gabinete ou consultório. Esses são meus cantinhos especiais e preferidos para reflexão, criação e escrita. Nesses momentos consigo entrar em contato com meu mundo interno, com minhas emoções mais profundas, daí, coloco “relativamente” em (des)ordem, as ideias que me ocorrem. As ideias inventivas surgem de diferentes maneiras. Nisso sou eclético, creio. De todo modo geral, minhas inspirações surgem de situações observadas ou/e vivenciadas na realidade objetiva. Quase todos os contos apresentados no livro "dos Exasperados aos Acometidos", por exemplo, tiveram inspirações em fatos. Daí imagino várias possibilidades de desenvolvimento dos conflitos e seus finais. Às vezes já está tudo projetado quando me lanço a escrever, outras vezes, tenho uma ideia vaga e me lanço a escrever, durante o processo de escrita, as ideias vão surgindo. Nesses casos, até o desfecho me surpreende, justamente por ser inesperado. Isso é algo incrível. Relaxo e deixo o inconsciente trabalhar a meu favor.  

 Um exemplo é o conto “Pronto, Socorro”. Certo dia presenciei um acidente terrível. Um carro e uma motocicleta se chocaram violentamente. Como também sou motociclista – viajo de moto – esse acidente me impactou profundamente, ademais, como trabalhei a vida toda em hospital e socorri muitas pessoas acidentadas, nasceu o referido conto. O leitor, a leitora, perceberá (sem spoiler), que o movimento da narrativa “vai se movimentando com o personagem, da rua para dentro do hospital”, cenário, aliás, onde ocorre a maior parte da estória e seu desfecho. Todos os contos desse livro, têm um pé cravado na realidade factual. Se são contos realistas ou não, deixo para os leitores decidirem e opinarem.  

 Outra inspiração é a escuta atenta. Costumo dizer, que “a melhor escola de escuta é o silêncio atento”. Escuto pessoas livremente, de forma amoral, procuro ouvir sem intervir. Anoto o que ouço. Por meio dessas anotações, vou elaborando associações de ideias e registrando. Depois guardo numa gaveta para retomar mais tarde.   

 Um pequeno trecho de um dos contos do livro: 

 Do conto: “Tormento kafkaesco”, p. 35, do livro:

 Sábado pela manhã, um frio de tiritar, ouço o barulho da camionete. É papai chegando na fazenda. Vejo-o pela janela dando ordem a três peões para reunir o rebanho no curral. Feliz da vida vou ao encontro de meu pai:

— Bom dia, coronel Miranda. Vão vacinar o bicharedo?

— Melhor que isso. É dia de abate.

— Abate!?

— Sim. Doei a carne para a festa de amanhã.

Paralisei. Notei que o gado está agitado no curral. Mimoso me olha e tenta andar em minha direção, mas um peão grita e o faz voltar. Meu coração dispara, sinto um aperto no peito, um nó na garganta, estou sem entender nada. Olho para a Juraci. Ela observa da janela em silêncio. Não consigo reagir, meu defeito de sempre. Algo me inibe por completo.

Papai olha tranquilamente para o rebanho, aponta para Mimoso:

— Aparta esse zebuzinho aí. Tá no ponto!

Uma aflição terrível toma conta de mim. Não! Não pode ser!

Com a corda já no pescoço, Mimoso pressente o perigo. Seus olhos arregalados fixam os meus. Berra pedindo ajuda. Ele sempre quando me via corria para perto de mim. Eu me desespero. Não sei o que pensar, o que fazer.


Em breve uma entrevista completa do escritor Arnaldo Chagas, para a Revista "Conexão Literária" (total: 359.674 seguidores) & "Paralelo 29".

 

CREPÚSCULO DA VIDA

                                                                                                          Autor: Arnaldo Chagas  Na vastid...