Arnaldo Chagas
A
vida é imprevisível. Às vezes nos prega peças deixando-nos em estado de alerta,
perplexo e atemorizado. Otávio Augusto, com apenas 7 anos, nos mostrou
exatamente isso. Otávio é filho de Elenice e de José. Ela é uma mãe daquelas
que ama seus filhos como uma ave que procura manter seus filhotes em baixo das
asas. Elisete, tia de Otávio, foi quem nos trouxe a situação do garoto que nos preocupou sobremaneira.
Otávio apresentou “nódulos no pescoço que só aumentou com o passar dos dias. Sentia dor ao deglutir e há tempos dor de cabeça. Por conta da febre alta”, então, foi levado ao posto de saúde. A médica, de início, suspeitou de caxumba. Depois, solicitou exame de sangue e ultrassonografia, pois suspeitava, agora, de algo mais grave, talvez Otávio estivesse com leucemia. Foi um baque para a família, que ficou atônica, incrédula e impotente. Quem acreditaria que uma criança, até então, alegre e saudável, de uma hora para outra, pudesse estar com uma doença grave? Ninguém.
Tão logo chegou o resultado dos exames, a angústia dos familiares aumentou ainda mais. A Secretaria de Saúde entrou em contado com Elisete, pois Otávio estava sendo cuidado por ela e foi solicitado encaminhamento urgente do garoto para o HUSM (Hospital Universitário). Lá foi solicitado várias outras coletas de sangue e o material foi encaminhado para ser examinado no estado do Paraná. Pelos sintomas apresentados, a suspeita de leucemia era grande. A aflição dos familiares aumentou ainda mais. A sensação era como se a família pudesse dizer: “tá bem, diz aí doutora que isso foi um mero engano, vamos rir disso tudo e tocar a vida em frente!”. A preocupação era imensa, a angústia da espera dos resultados dos exames, idem. Foi como se estivesse caído uma bomba sobre a cabeça de todos. Um pesadelo tremendo.
Lembro
de uma mãe que atendi no consultório, tempos atrás. Seu filho tinha medo de
dormir em quarto escuro. Sua alegria foi imensurável, quando o filho conseguiu dormir
sem luz e veio a seu encontro todo feliz: “mamãe, mamãe, eu consegui, eu
consegui!”. Só que com Otávio a situação era diferente, nada dependia dele e de
sua mãe. A mãe de Otávio, aliás, incrédula - e isso é muito comum nesses
casos -, questionou a força de Deus: “porque fez isso comigo!...”
Quando os resultados dois exames chegaram, sem
acusar leucemia, a médica do HUSM decidiu realizar uma biópsia para ter
certeza. A suspeita da médica era grande, inclusive a família foi informada da
suspeita que ainda se mantinha. Otávio, sentia tontura, dor de cabeça e ao
deglutir.
O
resultado da biópsia demorou um mês para ficar pronto. Um mês de tortura para a
família. Nesse tempo, Otávio só tomou medicação antitérmica e analgésica. Os médicos não queriam entrar com medicações
antes do resultado da biópsia. Uma das
alternativas, era de ele ficar internado, porém, a médica achou melhor aguardar
em casa o resultado. A família foi
orientada que a dieta seria pastosa, ademais, que Otávio não poderia ouvir
barulhos, se estressar, pegar sol, e nem mesmo ir para escola, aliás, que tanto
gostava. Enfim, deveria se manter em repouso. Daiane, prima de Otávio e filha de
Elisete, sobretudo nos primeiros sete dias, não mediu esforços para cuidar do
moleque. Elisete, como é sua característica, também deu todo o suporte
necessário. Todos nós torcíamos por Otávio.
Foram
dias muito difíceis. Como relatou Elisete, Otávio, menino esperto e
inteligente, a interrogava: “tia, o que que eu tenho? Por que todo mundo vem me
visitá? Eu vou melhorá desse machucado? Eu vo morre?” É difícil saber o que
responder nessas ocasiões. É nesses momentos que a gente finge ser forte:
“calma, tenha fé, você vai ficar bem, isso vai passar, estamos aqui junto contigo...”
Depois, saímos dali e vamos chorar escondido.
No
hospital, logo após a biópsia, Otávio ouviu os médicos conversando com Daiane,
no quarto, sobre seu caso. Eles achavam que o garoto estava ainda anestesiado,
mas os efeitos da anestesia já tinham passado.
Um cuidado, aliás, que todo o profissional de saúde deve(ria) ter. Otávio
ouviu os médicos, que não estavam com bons pressentimentos, afirmarem que o
caso dele poderia ser grave, que poderia ser câncer e não sei que mais.
Mirian,
foi a pessoa destinada para ir ao hospital receber o resultado da biópsia. Numa
tranquilidade de monja budista de longa experiência, enviou ontem um áudio pelo
WhatsApp, que nos banhou de alegria e satisfação:
-
Tô passando para dar notícia do Otávio. Ele já tá com alta e não precisa mais
voltar aqui… Aquele 'linfonodo' é benigno, é alguma massinha de gordura que
se alojou ali, deve ter sido algum tipo de infecção, alguma bactéria que ele
tivesse contraído em algum momento. Mas que não tem nada para se preocupar. Ele
tá de alta, porque a biópsia só foi favorável a ele. Não é nenhum tipo de
câncer, não é nada maligno, nada que possa comprometer a saúde dele. Tá bom?…
Tá tudo bem graças a Deus”.
A
Elisete pretende comemorar esse maravilhoso desfecho. Reunirá em sua casa Otávio
e a criançada toda. Fará um chá da tarde com cachorro-quente: “vou enche o
pátio de criança e deixá que corram e brinquem à vontade”. A mãe de Otávio,
Elenice, como era de se esperar, só restou chorar de alegria e pedir perdão a
Deus pelo que disse antes. Otávio Augusto, agora não tem mais nódulo, não tem
mais dor, não tem mais medo e come de tudo. Otávio e familiares, são só
alegria!