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quinta-feira, 20 de abril de 2023

A VIDA, ESSA DRAMATURGA IMPRESÍVEL

 A vida, ah, a vida... É uma dramaturga caprichosa, que ora nos faz rir com seus enredos irônicos, ora nos mergulha num drama tão denso que até respirar parece um luxo. Que outra força, além dela, poderia transformar uma tarde comum em um pesadelo sem aviso prévio? Foi assim que conheci a história de Otávio Augusto, um menino de 7 anos, pequeno em tamanho, mas gigante na resistência, que provou que a vida é, no mínimo, uma ótima contadora de histórias – e gosta de reviravoltas.

Otávio é filho de Elenice, mãe de asas largas, daquelas que fariam inveja a qualquer águia. Seu pai, José, é homem de poucas palavras, mas de olhar que fala pelos silêncios. Mas foi Elisete, tia dedicada, quem trouxe a notícia que arrepiaria a espinha de qualquer família. Otávio, antes alegre e travesso, começou a exibir sintomas inquietantes: nódulos crescendo no pescoço, febre persistente, dores que roubavam sua leveza de criança. A médica do posto de saúde olhou para ele e murmurou “caxumba”, mas seus olhos, já calejados e sua família, não estavam convencidos.

Com o passar dos dias, o diagnóstico começou a flertar com algo muito mais sombrio: leucemia. A palavra caiu sobre a família como uma pedra jogada em um lago calmo – primeiro o impacto, depois as ondas de medo se espalhando sem controle.

Otávio foi submetido a exames, tantos que se poderia pensar que seu pequeno corpo era um mapa a ser decifrado. “Ainda pode ser um engano,” disseram os familiares, quase em prece. Mas quando a médica mencionou o HUSM, o Hospital Universitário, todos entenderam que o roteiro estava longe de ter um desfecho.

Enquanto os resultados não chegavam, Otávio passou a viver uma rotina que não cabia em sua idade. Nada de escola, nada de brincadeiras, nada de sol. "Repouso absoluto", disseram. Para uma criança cheia de energia, isso era quase uma sentença. Mas Otávio, com sua sabedoria infantil, enfrentava os dias com perguntas de partir o coração:

– Tia, eu vou morrer? Por que todo mundo vem me visitar?

E como responder sem deixar o lábio tremer? Como explicar que as respostas dependiam de um pedaço de papel que nunca chegava?

O ápice dessa história chegou numa tarde que pareceu um eterno entardecer. No hospital, enquanto os médicos discutiam sobre “linfonodos” e “possibilidades malignas”, Otávio, anestesiado só no protocolo, ouviu tudo. Seus olhos abertos, mirando o teto, guardavam perguntas que ninguém ali tinha coragem de encarar.

E então veio o áudio. Um simples áudio de WhatsApp, com a voz de Mirian, cheia de calma, mas que trouxe um alívio tão grande quanto uma tempestade que dá lugar ao sol:

– O resultado saiu. É benigno. Nada de câncer, nada maligno. O Otávio está de alta. Graças a Deus, tá tudo bem!

De repente, o peso que sufocava a família evaporou como neblina ao amanhecer. Elenice, que antes questionara os desígnios de Deus, chorava agora em um misto de alívio e arrependimento. Elisete, fiel escudeira, anunciou uma celebração à altura da ocasião: chá da tarde com cachorro-quente, criançada correndo pelo quintal, gargalhadas ecoando como um coral de vitória.

Otávio, enfim, podia voltar a ser o garoto de sempre. Não havia mais nódulos, não havia mais dor. E, naquele pátio cheio de vida, ele corria como quem reencontra a liberdade, provando que, no grande teatro da existência, a vida muitas vezes guarda um último ato que pode – e deve – nos fazer sorrir.

EU MORRI!

Acordei num sobressalto. O quarto estava mergulhado na penumbra, e o peso no meu peito parecia gritar algo que minha razão não queria ouvir:...