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segunda-feira, 5 de junho de 2023

MOLHADINHO E MORRENDO DE VERGONHA!


Pode ser uma imagem de gato

Eram exatamente 13:13 m'... quando fui surpreendido por uma tromba d´'água.
Era chuva torrencial que me pegou desprevenido, quando eu estava subindo a Fernando Ferrari. Estava feliz da vida, afinal, minha encomenda chegará na Cesma: o livro "Do amor" de Stendhal. Logo combinei um café com a Paulinha, amiga poeta.
No entanto, deu tudo errado. Que saco!
O tempo já vinha se armando quando sai de casa, mas não dei a mínima. Bem na subida forte da F. Ferrari, senti que começava a cair uns pingos de chuva: plop, plop…, Eu, de boas, “cagando e andando” … De repente, o mundo veio a baixo. Caio um toró…
Na minha frente ia caminhando uma linda jovem, que ficou toda molhadinha. Resolvi atravessar a avenida, de modo a não ficar olhando para seu vestido, que ficou transparente e não lhes causar constrangimento (fiquei com medo até de ser acusado de assédio sexual... sei lá!). Além da tromba d'água, começou a trovejar forte e cair raio, indignado decidi voltar para casa, mais parecia um garnisé, ou melhor, um gato molhado ("tudo contra gatos molhados!").
Foi-se minha encomenda, foi-se o café com a Paula.
Bem, que fazer! Me acalmei e achei melhor mesmo curtir a chuva, lembrei de um ditado nojento, de que não gosto, mas que interroga: “o que é um peido pra quem tá cagado?”.
A final, quando criança adorava tomar banho de chuva.
Descia pensando: "que legal! Ao chegar em casa posso escrever uma crônica contanto os banhos de chuva que tomava quando criança e o prazer que isso me provocava". Foi nesse exato momento que vi um clarão e ouvi um "BRUMMMMM", quase o coração saiu pela boca, tamanho susto. Não bastava isso, ouvi uma voz que veio de um prédio, sem ter um pingo de consideração comigo: "VAI MORRÊ DESGRAÇADO! Quando olhei rápido para trás e para o alto, mesmo sem ver quem gritou, reagi involuntariamente e só percebi a frase que gritei segundos depois: "VAI PRA O RAIO QUE O PARTA!
O céu tava desabando. Era água que Deus mandava. “Um aguaceiro de afoga sapo”. Eu já estava perto de casa. Ia passando por ali, onde tem a praça perto da sinaleira do Big-Center Santa Maria, que dizem que foi comprado pelo pessoal do “Carrefour”, onde tem um gramado e uns carreirinhos de chão, aliás, que estavam puro barro, escorregadios, mas nem percebi. A chuva fria e o chão encharcado não foi obstáculo para que me invadisse o espirito moleque que me persegue mesmo com meus 60 anos nas costas.
Como sou metido a corredor de rua há anos e estava com um bom tênis, decidi dar um pique (nós corredores chamados de “tiro”), de modo a atravessar aquela estradinha de chão. Quis me aparecer para as pessoas que estavam se protegendo da chuva na entrada do supermercado, mostrar meu orgulho e minha coragem. Sai a mil! Não deu cinco metros, dei um escorregão feio e cai de lombo no barro. Foi quando um gaúcho que vinha passando com uma caminhoneta D20, daquelas antigas, colocou a cabeça pra fora - eu só vi o chapéu - e gritou com toda a força: “VAI TE MATÁ NULIDADE!”.
Levantei rápido, dei mais um resvalão, mas me equilibrei. Todo encharcado, sujo, morrendo de vergonha e beiçudo, com a mão na bunda e com o lábio inferior estirado de brado, levantei a cabeça e vi que passavam por mim duas jovens de braços dados de baixo do guarda-chuva, ambas tapavam a boca com as mãos e soltavam risinhos histéricos, finos e debochados: “se machucou tiozinho! – Vão pro inferno! - respondi. Agora, fazem duas semanas que não consigo passar naquela pracinha e, cada vez que chove forte, só saio de casa, se for de carro.
Arnaldo Chagas (Escritor e poeta gaúcho)

CREPÚSCULO DA VIDA

                                                                                                          Autor: Arnaldo Chagas  Na vastid...